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Entre Teoremas e Chocolates: Soltas

terça-feira, janeiro 29, 2008

Soltas

Caiu o ministro da saude, mas não acredito que tenha caído a má administração da saude. Mudam-se as caras, mudam-se os discursos, dá-se esperança aos cidadãos... mas nada me leva a crer que a mudança de ministros inverta a tendência de ruína do nosso sistema de saude.

Tenho criado alguma simpatia pelo Manuel Alegre. Hoje quando soube das reformulações em curso no governo através da Renascença, ouvi o jornalista perguntar ao Manuel Alegre a opinião dele acerca da saída da ministra da cultura e ele responder: "Preferia que saísse a ministra da educação!" Eu até nem sou um crítico da ministra da educação, mas o que me espanta é a franqueza com que Manuel Alegre se refere em relação a ministros do seu próprio partido. Gosto do estilo!

Deixando a política de lado, ontem fui ao cinema ver o Tom Hanks em Jogos de Poder. É um filme agradável, nada de bestial, mas gostei. Sobretudo se comparar com os ultimos filmes que tinha visto no cinema, The Departed e O Escolhido (ao olhar para estes nomes é que reparo que já não ía ao cinema há muitos meses), que foram muito maus. Há uns dois anos fui ao cinema com uma pessoa muito bonita, ver um filme muito bonito, O Tigre e a Neve. Agora tenho a sensação que cada vez que entro numa sala de cinema me calham maus filmes, como se fosse uma espécie de troco por ter tido a sorte de uma vez na vida ver um grande filme no cinema!

Também tenho andado a ler o livro Band Of Brothers que tinha encomendado pela Amazon! Oportunamente merecerá um post só para ele! Aliás, entra directamente para a categoria "Um Livro, Um Amigo". Por agora digo apenas que estou a adorar!
E por falar na 2ª Guerra Mundial, na sexta feira passada requisitei um livro na biblioteca chamado Sheaves On Manifolds, uma espécie de páginas amarelas da teoria dos feixes, e a introdução do livro começa assim: «The aim of this book is to give a self-contained exposition of sheaf theory. Sheaves were created during the last world war by Jean Leray, while he was a prisoner of war in a German camp.» Impressionante como é que um tipo num campo de prisioneiros de guerra conseguiu ter lucidez e inteligência para criar um objecto matemático do mais complexo que existe. Para mim os feixes estão no pódio dos assuntos mais difíceis com que tenho que trabalhar, talvez apenas ultrapassados pelas categorias e functores derivados. É uma curiosidade que tem o seu quê de fascinante... saber que foi num campo de concentração que nasceu uma teoria muito forte, com a qual Serre e Grothendieck revolucionaram a Geometria Algébrica e que mais tarde foi aplicada por outros matemáticos aos aneis não necessariamente comutativos, o que permitiu desenvolver a Análise Algébrica... e é a Análise Algébrica (há quem prefira a designação de Análise Microlocal ou até de Álgebra Não Comutativa) que diariamente me proporciona muitas batalhas e que se está a tornar a minha área de trabalho! E com esta «matematiquice» encerro esta sessão de notas soltas acerca da actualidade, a do país e a minha!

2 comentários:

rock disse...

Mais uma história muito bonita. Mais uma prova que o espírito não pode ser preso entre grades físicas. É realmente impressionante como em situações complicadas alguém se consegue abstrair do que se encontra à sua volta para criar algo admirável. **

David disse...

Pois é, a época da segunda guerra mundial foi fértil em histórias bonitas! Todos nós temos potencial para alcançar feitos excelentes, mas muitas vezes são as circunstâncias mais desagradáveis e desesperadas que catalizam esses feitos...