Há coisas no meu quotidiano aqui em Paris que estariam tão bem incluídas no meu quotidiano em Lisboa... Infelizmente não é possível transportar para Lisboa o Institute de Mathemàtiques de Jussieu. Trabalhar neste instituto ou trabalhar na minha sala da FCUL é tão, mas tão diferente. Lembro-me de alguns professores aconselharem vivamente o doutoramento no estrangeiro. Optei por uma co-orientação que me tem permitido até agora ficar a maior parte do tempo em Portugal, mas agora que aqui estou percebo o que esses professores quiseram dizer. Aqui há uma outra maneira de fazer matemática. Muito mais dinâmica, muito mais... científica. Também não sou daqueles que dizem que tudo no estrangeiro é uma maravilha e tudo em Portugal é mau. Acredito que existam por essa europa fora muitas universidades e centros de investigação bem piores que os nossos. Mas comparando as realidades que conheço, Paris e Lisboa, tenho que dizer que Paris é um outro mundo.
Hoje em conversa com o meu orientador percebi algo que já suspeitava. Os artigos científicos estão repletos de afirmações que os autores não verificaram. O que me parece é que muitas vezes eles já sabem à partida onde querem chegar e sabem que a conclusão é verdadeira porque tem que ser verdadeira e para lá chegar usam argumentos cujos detalhes nem sempre são verificados. E à pala disto, acredito que andam por aí muitos artigos cujos resultados principais estão certos, mas com detalhes errados.
No meu caso, preciso de construir um morfismo entre duas estruturas e provar que é um isomorfismo. Para tal é suficiente provar que obtemos um isomorfismo quando fazemos uma espécie de restrição do domínio (very roughly speaking). A ideia é que esse isomorfismo que resulta da restrição do domínio já é uma coisa conhecida, já foi construído por outros autores e eu posso usar esse facto desde que eu torne explícito que a restrição do meu morfismo dá precisamente o morfismo que esses autores estudaram. O problema é que a construção mais fácil é em abstracto: provo que existe o morfismo entre as estruturas que quero, mas não exibo nenhuma expressão para esse morfismo. Portanto torna-se impossível garantir que ao fazer a restrição vou obter o morfismo tratado pelos outros autores. O que o meu orientador me disse foi para eu simplesmente afirmar isso e arrumar o assunto...
Se algum dia derem de caras com um artigo escrito por mim, não se fiem...
Hoje em conversa com o meu orientador percebi algo que já suspeitava. Os artigos científicos estão repletos de afirmações que os autores não verificaram. O que me parece é que muitas vezes eles já sabem à partida onde querem chegar e sabem que a conclusão é verdadeira porque tem que ser verdadeira e para lá chegar usam argumentos cujos detalhes nem sempre são verificados. E à pala disto, acredito que andam por aí muitos artigos cujos resultados principais estão certos, mas com detalhes errados.
No meu caso, preciso de construir um morfismo entre duas estruturas e provar que é um isomorfismo. Para tal é suficiente provar que obtemos um isomorfismo quando fazemos uma espécie de restrição do domínio (very roughly speaking). A ideia é que esse isomorfismo que resulta da restrição do domínio já é uma coisa conhecida, já foi construído por outros autores e eu posso usar esse facto desde que eu torne explícito que a restrição do meu morfismo dá precisamente o morfismo que esses autores estudaram. O problema é que a construção mais fácil é em abstracto: provo que existe o morfismo entre as estruturas que quero, mas não exibo nenhuma expressão para esse morfismo. Portanto torna-se impossível garantir que ao fazer a restrição vou obter o morfismo tratado pelos outros autores. O que o meu orientador me disse foi para eu simplesmente afirmar isso e arrumar o assunto...
Se algum dia derem de caras com um artigo escrito por mim, não se fiem...
2 comentários:
... Bolas...
Aquilo que eu sempre admirei nos matemáticos foi a honestidade.
Se calhar por estas e outras é que tipos como o Grothendieck e o Perelman (mais este último, provavelmente) se passam dos carretos e mandam o mundo matemático às malvas.
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