Eu não concordo com a avaliação dos professores. Não faz sentido avaliar os professores que dão aulas há anos. Isso a mim soa-me a gozar com o trabalho deles. A unica maneira que eu ainda consigo tolerar para se avaliar um professor é a presença de uma comissão de avaliação, ou algo do género, a assistir a algumas aulas. Porque é nas aulas que um professor exerce a sua actividade, é lá o único sítio onde podemos perceber se um professor cumpre ou não o seu papel, se expõe a matéria com clareza, se tenta motivar os alunos, etc. Mas a avaliação feita deste modo apresenta um entrave: não nos livramos da subjectividade das avaliações feitas por duas out três pessoas. É por isso que este tipo de avaliação que eu até toleraria, não me parece completamente efica, correndo mesmo o risco de ser injusto.
Quanto a avaliar os professores em função das notas dos alunos, não concordo nada. O insucesso escolar tem quase sempre as suas raízes nas famílias, no modo como os pais educam os filhos. Por isso, antes de avaliar os professores pelo sucesso ou insucesso dos seus alunos, teríamos que avaliar os pais. Os pais têm que ser educados! Aliás, muito mais útil que avaliar os professores, será começar a dar-lhes formação de modo a saberem lidar com os pais dos alunos, ajudando-os a serem melhores educadores dos filhos.
Quanto àqueles que estão agora a começar a carreira, também me parece que a avaliação não faz sentido. Nem os testes. Não conheço como é feita a formação de professores nas várias universidades, mas vou tomar como modelo os cursos da FCUL. Creio que os cursos da FCUL têm (ou melhor tinham, porque com Bolonha nem sabemos bem como vão ficar os cursos de ensino) uma boa componente pedagógica. Os estágios são bem acompanhados e bem avaliados. E alguém que tem sucesso no estágio, é alguém que tem as qualidades necessárias para vir a ser um bom professor. Os cursos da FCUL têm também uma boa componente científica avaliada de modo exigente. Por isso acho despropositado que sejam necessários realizar mais testes para poder aceder à carreira docente. E acho ainda mais despropositado que alguém que queira dar aulas de matemática tenha que fazer um teste de português. Ter ou não ter uma boa nota num teste desses não dá nenhuma indicação acerca da competência da pessoa para dar aulas de matemática. Eu tive um professor de matemática no 6º ano que falava muito mal. Era ex-combatente do ultramar, tinha um jeito abrutalhado e parecia sempre meio ébrio. Mas ensinou-me bem matemática. Cá na minha terra ele é tido como um bom professor e, no entanto, era provável que não passasse no tal teste de português.
O problema do ensino actual não são os professores. Há professor negligentes ou mesmo incompetentes, mas são uma minoria e não é por culpa deles que o sistema de ensino está permanentemente adoentado. O estado do ensino actual foi provocado pelos ministros que durante anos a fio se têm dedicado a tomar medidas a curto prazo, que pouco mudam a situação, em vez de delinearem uma estratégia que a médio prazo resulte num sistema de ensino equilibrado e justo.
A chave para termos bons professores não é a avaliação, mas sim a formação. Espero que os segundos ciclos em ensino que Bolonha nos vai trazer garantam uma boa formação. Avaliar os professores é apontar o dedo a quem tem menos culpa.
Outro assunto actual é o novo estatuto do aluno que basicamente parece ser uma tentativa de obrigar os professores a passar toda a gente. Ao longo dos anos, chumbar um ano na escola foi a sorte de muita gente. Agora cada vez menos terão essa sorte, tudo em nome das estatísticas...
Nota: escrevi esta minha opinião para comentar um post do Hugo, em que ele levanta várias questões acerca da avaliação de professores.
2 comentários:
Ena, obrigado pelas reflexões! Não concordo com tudo o que dizes, mas isso tb é normal.
Olha, não tinha visto o teu convite para almoçar na outra semana. Que tal nesta?
De nada! Esta semana está a ser um pouco imprevisível, mas para mim talvez dê na sexta. Até lá digo mais qualquer coisa.
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