O meu orientador deu-me um problema para tentar resolver que, nas palavras dele, talvez seja "demasiado fácil". Quando eles usam expressões deste género é mau sinal. É mais do que motivo para eu me assustar.
Ontem passei a tarde a delinear uma teoria bonita (e realmente fácil) que resolveria o problema num piscar de olhos. Só que o que fiz ontem foi apenas listar um conjunto de pequenos passos que teria que dar até chegar ao teorema essencial. Sem demonstrações. E esperar que uma teoria sem demonstrações se torne uma resolução real de um problema é mais ou menos a mesma coisa do que esperar que um esqueleto se torne um ser humano, ou que um caderno cheio de pautas vazias se torne a 5ª sinfonia de Beethoven ou que uma tela em branco se torne um Renoir.
De modos que hoje passei a tarde a atirar para o lixo parte daquilo que tinha delineado ontem e a reciclar a outra parte. Um matemático é por definição um tipo que passa o tempo a Reduzir, Reutilizar e Reciclar o trabalho que ele ou os outros matemáticos fizeram no passado.
(Na imagem, o quadro Ao Piano de Pierre-Auguste Renoir, um quadro fofo (não sei se é este o termo técnico adequado) que tive o prazer de ver no Musée de l'Orangerie.)
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