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Entre Teoremas e Chocolates: Grandes Obras Russas

quarta-feira, março 25, 2009

Grandes Obras Russas

Os meus livros preferidos, pela forma como me marcaram, são livros de carácter cristão. Além disso, adoro biografias e, se tentasse fazer uma lista dos meus livros favoritos, é provável que nos primeiros lugares aparecessem os tais livros de carácter cristão e algumas biografias de autores pouco conhecidos, mas acerca de gente conhecida como Martin Luther King, Winston Churchill ou Paul Rusesabagina. Mas se quiser elaborar essa lista restringindo-me às obras seculares e excluíndo as biografias, lembro-me de imediato dos livros de Ernest Hemingway, Pearl S. Buck, Herman Hesse ou Victor Hugo. E, para dar honra também a alguns portugueses, lembro-me de A Saga, de Sofia de Mello Breyner, Um Homem Não Chora e Felizmente Há Luar, de Luis de Sttau Monteiro e muita coisa de Fernando Pessoa. No entanto, tenho a sensação de que se tivesse tempo para ler tudo o que interessa ler, iria concluir que essa lista seria encabeçada pelas grandes obras que vieram da Russia entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, através de nomes como Tolstoi, Dostoievsky e Pasternak, por exemplo. De todos estes, ainda só li Tolstoi. Li uma versão juvenil do Guerra e Paz e quero, um dia, ler a obra completa. Por enquanto, estou a deliciar-me com Anna Karénina, um romance absolutamente genial. É enorme, mas sinto que cada linha do livro é bem gasta, vale a pena, acrescenta alguma coisa. É uma sensação muito diferente daquela que tive ao ler Eça de Queirós. O Eça foi um escritor contemporâneo do Tolstoi e, em termos meramente estilísticos, talvez se possam encontrar algumas semelhanças, embora eu não saiba se podemos enquadrar o Tolstoi na corrente do realismo. Mas, talvez por ter explorado os livros do Eça demasiado novo, não gostei e fiquei com a sensação que são livros que, depois de espremidos, têm muito pouco conteúdo. Principalmente Os Maias. Com Tolstoi passa-se o contrário. Anna Karénina é uma obra que não se resume a uma história de cá-rá-cá-cá. Consegue ser ao mesmo tempo uma série de coisas: um romance intemporal; uma descrição da alta sociedade russa do século XIX; uma exposição das várias correntes de pensamento que coabitavam dentro da Russia, dando uma panorâmica da história da própria Russia e das tensões que deram origem à revolução agrícola e à ascensão do socialismo; uma narrativa da relação entre a alta sociedade russa e os camponeses, conhecidos como os mujiques; um tratado de filosofia sobre o propósito da vida, feito através dos discursos, atitudes e pensamentos das personagens; uma descrição, que me parece também intemporal, das relações e dos problemas familiares e do papel da mulher na família. E tudo isto é entrançado com mestria por Tolstoi, dando origem a uma obra que não se limita a ser a soma destes aspectos que referi. É uma obra complexa e bonita, para ser saboreada com calma. De Pasternak conheço o Doutor Jivago através da mini-série que por vezes passa na RTP. É do melhor que já vi... tristíssimo, até cruel, mas genial. Anseio por ler a obra original de Pasternak. De Dostoievski não conheço nada, mas tenho expectativas muito elevadas em relação à obra Os Irmãos Karamazov. A Russia é um país imenso, que tem tanto de fascinante como de assustador. Pelo pouco que conheço dos autores russos que referi, julgo que as suas obras têm o condão inigualável de conseguir despertar nos leitores essa mistura entre fascínio e terror. É por isso que estes autores têm, com todo o mérito, um lugar na história dos grandes nomes da literatura.

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