Os meus livros preferidos, pela forma como me marcaram, são livros de carácter cristão. Além disso, adoro biografias e, se tentasse fazer uma lista dos meus livros favoritos, é provável que nos primeiros lugares aparecessem os tais livros de carácter cristão e algumas biografias de autores pouco conhecidos, mas acerca de gente conhecida como Martin Luther King, Winston Churchill ou Paul Rusesabagina. Mas se quiser elaborar essa lista restringindo-me às obras seculares e excluíndo as biografias, lembro-me de imediato dos livros de Ernest Hemingway, Pearl S. Buck, Herman Hesse ou Victor Hugo. E, para dar honra também a alguns portugueses, lembro-me de A Saga, de Sofia de Mello Breyner, Um Homem Não Chora e Felizmente Há Luar, de Luis de Sttau Monteiro e muita coisa de Fernando Pessoa. No entanto, tenho a sensação de que se tivesse tempo para ler tudo o que interessa ler, iria concluir que essa lista seria encabeçada pelas grandes obras que vieram da Russia entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, através de nomes como Tolstoi, Dostoievsky e Pasternak, por exemplo. De todos estes, ainda só li Tolstoi. Li uma versão juvenil do Guerra e Paz e quero, um dia, ler a obra completa. Por enquanto, estou a deliciar-me com Anna Karénina, um romance absolutamente genial. É enorme, mas sinto que cada linha do livro é bem gasta, vale a pena, acrescenta alguma coisa. É uma sensação muito diferente daquela que tive ao ler Eça de Queirós. O Eça foi um escritor contemporâneo do Tolstoi e, em termos meramente estilísticos, talvez se possam encontrar algumas semelhanças, embora eu não saiba se podemos enquadrar o Tolstoi na corrente do realismo. Mas, talvez por ter explorado os livros do Eça demasiado novo, não gostei e fiquei com a sensação que são livros que, depois de espremidos, têm muito pouco conteúdo. Principalmente Os Maias. Com Tolstoi passa-se o contrário. Anna Karénina é uma obra que não se resume a uma história de cá-rá-cá-cá. Consegue ser ao mesmo tempo uma série de coisas: um romance intemporal; uma descrição da alta sociedade russa do século XIX; uma exposição das várias correntes de pensamento que coabitavam dentro da Russia, dando uma panorâmica da história da própria Russia e das tensões que deram origem à revolução agrícola e à ascensão do socialismo; uma narrativa da relação entre a alta sociedade russa e os camponeses, conhecidos como os mujiques; um tratado de filosofia sobre o propósito da vida, feito através dos discursos, atitudes e pensamentos das personagens; uma descrição, que me parece também intemporal, das relações e dos problemas familiares e do papel da mulher na família. E tudo isto é entrançado com mestria por Tolstoi, dando origem a uma obra que não se limita a ser a soma destes aspectos que referi. É uma obra complexa e bonita, para ser saboreada com calma. De Pasternak conheço o Doutor Jivago através da mini-série que por vezes passa na RTP. É do melhor que já vi... tristíssimo, até cruel, mas genial. Anseio por ler a obra original de Pasternak. De Dostoievski não conheço nada, mas tenho expectativas muito elevadas em relação à obra Os Irmãos Karamazov. A Russia é um país imenso, que tem tanto de fascinante como de assustador. Pelo pouco que conheço dos autores russos que referi, julgo que as suas obras têm o condão inigualável de conseguir despertar nos leitores essa mistura entre fascínio e terror. É por isso que estes autores têm, com todo o mérito, um lugar na história dos grandes nomes da literatura.
quarta-feira, março 25, 2009
Grandes Obras Russas
Publicada por David à(s) quarta-feira, março 25, 2009
Etiquetas: reflexões, Um Livro Um Amigo
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