Agora já sobrevivo às baixas temperaturas de Paris apenas com uma t-shirt, mais uma sweat e o meu kispo com forro polar, que, nas palavras da minha orientadora, é um "cobertor que deve tornar impossível ter frio". Já me esqueço do cachecol em casa, expondo o pescoço e, por transitividade, os brônquios, ao arzinho gélido. E deixo as luvas dentro da mochila (ainda hei-de explicar a mim próprio qual é a utilidade de andar com um par de luvas dentro da mochila...) que é como andar à caça de frieiras. E não uso gorro, porque o meu cabelo está numa fase desgrenhada, desmazelada, comprida e, segundo os meus pais e irmã, está feio. Resumindo, está exactamente como eu gosto! Usar gorro deixa o cabelo com um aspecto de penteadinho parvo. Retira todo o meu charme de matemático sem-abrigo. Se a minha barba fosse qualquer coisa mais do que uns pelos semeados em dias de vento, era boa altura para deixá-la crescer. Mas, coitada, por mais que eu a deixe crescer, ela nunca parece passar de uma coisa rala e ridícula. O que me leva a concluir que tenho uma deficiência genética: os meus genes da barba são pigmeus. Tudo isto para dizer que não uso luvas, cachecol, nem gorro, mas, para azar da sociedade, sobrevivo! E, sendo assim, continuo a azucrinar a paciência daqueles que estão à minha volta. Eu azucrino, tu azucrinas, ele azucrina... Que belo verbo! Quem já não deve ter paciência para mim são os meus orientadores. Tenho dito mais disparates por unidade de tempo, do que o Bush. Dizia o Erdos que um matemático é uma máquina de transformar cafés em teoremas. Eu, não querendo de modo algum diminuir o papel que a cafeína desempenha na actividade matemática (até porque no meu caso não é só na actividade matemática que o café é fundamental, mas sim em todas as actividades, desde o momento em que abro as pestanas, até à altura em que as fecho), atrevo-me a contrariar o grande Erdos, cuja biografia O Homem Que Só Gostava de Números é um dos melhores livros de divulgação da matemática que já li, e digo que um matemático é uma máquina de transformar dúvidas disparatadas em teoremas. Epah, esta última frase deve ter ficado esquisita. Hoje estou num daqueles dias em que começo a escrever e nunca mais páro. É como se tivesse aqui dentro de mim um bichinho que me empurra os dedos para as teclas... É um bichinho genético (a minha mãe também o tem e uma vez ela até escreveu um livro de poesia). É um bichinho com o qual vivo em perfeita simbiose. E o que tem o Darwin a dizer sobre o meu bichinho? Onde é que ele entra na sua teoria? Em que reino, filo, classe, espécie e o caneco é que mora o meu bichinho? A propósito, já alguma vez vos disse que não vou muito à bola com o Darwin (se bem que eu normalmente vou sempre à bola com a mesma pessoa, é sempre com o mesmo amigo que vou à Luz ver o Benfica perder)? Desde as aulas de biologia do 12º ano que lhe tenho um pó do caraças...
sábado, fevereiro 07, 2009
É este o fenómeno que o Darwin designava de adaptação?
Publicada por David à(s) sábado, fevereiro 07, 2009
Etiquetas: Isto nem merece uma etiqueta
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3 comentários:
Portanto eu não sou matemático!
Produzo dúvidas e disparates.
Tu pegas nelas e convertes em Teoremas
Se produzes dúvidas e disparates, já tens meio caminho andado.
Neste momento eu próprio sou um disparate
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