Ah como gosto às vezes daquela parte de mim que é Álvaro de Campos
Como é bom às vezes viver com aquela intensidade perene
Como gosto às vezes daquela enorme lucidez e daquela tão pouca lucidez
Como é bom às vezes desfrutar sofregamente de cada momento
Ah como gosto às vezes de sentir que a vida me ama
Como é bom às vezes senti-la correr fervorosamente nas minhas veias
Como gosto às vezes de me entregar quase febrilmente a ela
Como é bom às vezes amá-la e ao mesmo tempo odiá-la
Ah como gosto às vezes de escrever sem fazer uso da infame pontuação
Como é bom às vezes rimar apenas quando não há intenção
Como gosto às vezes das sinestesias e das hipérboles
Como é bom às vezes pôr na gaveta as metáforas e os eufemismos
Ah como gosto às vezes da festa da farra da explosão do delírio
Como é bom às vezes sentir as avalanches de emoções
Como gosto às vezes de ser arrancado pelos furacões
Como é bom às vezes gritar berrar apedrejar o silêncio
Ah como gosto às vezes de tudo o que é selvagem e cru
Como é bom às vezes ser bárbaro medieval rude
Como gosto às vezes de me tornar aquilo que só sou às vezes
Como é bom às vezes ser aquela parte de mim que é Álvaro de Campos
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