badge
Entre Teoremas e Chocolates: Mais notas acerca do aborto

sábado, novembro 18, 2006

Mais notas acerca do aborto

Antes de mais Jaime, obrigado pelo teu comentário! Já visitei várias vezes o teu blog e nunca me atrevi a comentar por achar que uma intervenção minha poderia diminuir drasticamente a qualidade do blog. Mas um dia destes eu tento...

Quanto ao que disseste, entendo o teu ponto de vista, mas talvez possa explicar melhor o meu. O método contraceptivo mais seguro é a abstinência e toda a gente tem essa opção. Daí que há partida uma mulher tenha a opção de não engravidar. Julgo que a maioria das pessoas estão suficientemente informadas para saberem que correm risco, ainda que mínimo, quando usam preservativo ou pílula. Portanto, se uma pessoa não considera a abstinência como opção válida sabe que está a adoptar um comportamento que pode ter consequências. E parece-me que uma pessoa que toma a decisão de iniciar a sua vida sexual, deveria ter maturidade para aceitar as consequências, mesmo que indesejadas. Sei que não é isto que acontece, mas não posso deixar de pensar assim porque é esta a opinião que está de acordo com os meus valores. Julgo mesmo que o ideal seria voltarmos a ter uma educação para a abstinência. Ou pelo menos que se apresentasse essa opção aos adolescentes. Actualmente o sexo aparece quase como uma obrigação na adolescência, muito por culpa das moranguices e afins. A educação sexual nas escolas, antes de ensinar como se usa o preservativo, devia ser um meio de divulgar a opção da abstinência.

Quanto à questão do aborto despenalizado não constituir um novo método contraceptivo, tenho algumas dúvidas. Tenho várias amigas/amigos que vão votar "sim" e que dizem que nunca fariam/aconselhariam um aborto, e não tenho dúvidas que não fariam mesmo. Também acredito que muitas mulheres só abortariam mesmo como última opção. Mas a proposta de lei é clara: "por opção da mulher". Não diz que o aborto é despenalizado enquanto última opção (nem poderia dizer). E acredito que a falta de escrúpulos das pessoas abrirão rapidamente precedentes e daqui a uns tempos os nossos médicos farão abortos por qualquer motivo ou mesmo sem motivo nenhum, uma vez que me parece que o médico nem terá o direito de perguntar porquê. Não me espantarei se um dia algures em Portugal, após a despenalização, um homem e uma mulher tiverem uma conversa deste género:

- Queres ir para a cama comigo?
- Epah querer querer até queria, mas não tenho preservativos.
- Epah eu também não... e não estou a tomar a pílula"
- Mas deixa lá, o aborto agora é legal, se houver azar depois resolve-se!
- pois é! Uma pessoa até se esquece! então 'bora?

Bem, talvez eu esteja a exagerar. Espero que sim! Mas vou votar "não" e um dos motivos é achar que o estado português deve ter um papel defensivo, quase paternal, nestas questões complicadas (em parte porque os portugueses padecem de imaturidade quase-generalizada e noutra parte porque é para isso que um estado serve).

Isto era para ser só uma resposta ao comentário feito ao meu primeiro post sobre o assunto, mas como ficou enorme decidi fazer disto um post e terminar assim a minha campanha a favor do "não". É melhor não falar mais neste tema, antes que os meus leitores me considerem demasiado conservador e me enviem para algum país fascista! O que até não era mal pensado... ao menos lá as minhas opiniões seriam aplaudidas e o meu ego seria alimentado (e em certas alturas ele anda tão tão magrinho...)

3 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado pelo post-resposta ao meu comentário. Por favor, faz comments no meu blogue. Acredita que não podes baixar a qualidade dele, porque abaixo do zero absoluto não há nada. :-)

Acho que as pessoas que são contra o aborto são pessoas que, por opção, não fariam um aborto, e estão a tentar impor a todos os outros a sua opção. Isso parece-me incorrecto. Seria como eu ser católico e querer impor à força a todos os outros esta minha opção. Em suma, acho que se és contra o aborto, és livre de não o fazeres, mas não forces a tua opção aos outros, não feches essa porta às outras pessoas.

Quanto à abstinência como método contraceptivo, tecnicamente é uma solução para o problema da gravidez indesejada. Mas ser solução não basta: é preciso ser uma solução que tenha um custo aceitável. O preservativo é uma solução de custo aceitável: não é caro nem dá muito trabalho usar. A pílula é uma solução de custo aceitável: não é cara nem dá muito trabalho lembrar de a tomar. A abstinência não é uma solução de custo aceitável: sacrificar a sexualidade, abdicar dessa parte da nossa vida, é para muitas pessoas um preço demasiado alto.

Finalmente, quanto à conversa em que colocas a possibilidade de um casal passar a recorrer ao aborto em vez de ao preservativo ou à pílula, acho que isso não aconteceria. Se não me engano, uma mulher depois de fazer um aborto tem de ficar uns dias de cama, possivelmente com dores. Face a isso, não me parece provável que uma mulher opte por arriscar em ter relações sexuais desprevenidas, pensando que se engravidar pode sempre abortar. É que abortar não é uma coisa agradável.

Jaime
www.blog.jaimegaspar.com

David disse...

Bem Jaime, este é daqueles assuntos que tem pano para mangas... vou tentar apenas explicar melhor 2 ou 3 pontos:

- talvez tenhas razão quando dizes que as pessoas que são contra o aborto estão a tentar impor aos outros essa opinião, não deixando essa porta aberta para quem quisesse optar por ela. No entanto, para mim e para muitas pessoas que pensam como eu, impor o não ao aborto está muito longe de impor qualquer tipo de fé ou religião. Suponhamos que agora alguém se lembrava de dizer que o homem devia ser livre de matar alguém que de algum modo o incomodava. Nesse caso, se houvesse um referendo em que se votasse a despenalização dos homicídios, todos, excepto os psicopatas, íamos votar não e íamos impedir que essa porta ficasse aberta. Para perceberes melhor o que nós sentimos em relação ao aborto, achamos que impor o não ao aborto está muito mais perto de impor o não à despenalização de homicídios do que impor uma religião.

- em relação à abstinência, também não quero impor a ninguém que abdique da sua sexualidade. Apenas julgo que se fossemos educados para esperar para fazer as coisas somente quando fossemos suficientemente maduros para enfrentar as consequências daquilo que fazemos, talvez grande parte do problema do aborto ficasse resolvido. A abstinência na adolescência não seria um peso que os adolescentes teriam que carregar. Mesmo que na adolescência seja difícil de compreender, a verdade é que tudo na vida tem um tempo certo.

- quanto à conversa que coloquei, concordo que exagerei até porque, como tu disseste, abortar não é uma coisa agradável. Mas penso que vão ocorrer outras conversas, talvez não tão lineares, que nos iriam deixar surpreendidos caso as pudessemos ouvir.

E tenho dito =) Acho que esta é daquelas questões em que podiamos continuar a trocar argumentos válidos e não nos iriamos convencer um ao outro, porque mexe com sentimentos muito íntimos e individuais dos quais não estamos dispostos a abdicar.

Anónimo disse...

O aborto neste momento está a ser um negócio político e as pessoas esquecem-se disso. O nosso governo está a utilizar este referendo como um teste, para testar a sua popularidade diante das pessoas...

Mas relativamente à questão propriamente dita do aborto, sou a favor do não, porque a meu parecer, a lei corrente engloba tudo o que seja aceitável nesta matéria. acho que a despenalização do aborto, irá trazer alguns inconvenientes com bastante peso... Como por exemplo, se um médico é proposto para efectuar um aborto, pode estar a ser desviado de casos mais importantes, de utentes com mais riscos de saúde.

Relativamente à abstinência, é possível, mas muito pouco viável, porque vivemos numa sociedade de adolescentes em que a virgindade é uma coisa absolutamente banal e a sexualidade é iniciada cada vez mais cedo, por "crianças" sem qualquer tipo de informação...

Esta questão é bastante delicada no sentido que movimenta um turbilhão de situações e sentimentos que mexem até mesmo com o mais céptico dos mortais, mas eu acredito que vai ficar tudo na mesma... Mesmo que com isso se gastem milhares de euros em campanhas indirectamente políticas...